O professor doutor Nathan Ourives, do curso de Licenciatura em Música da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), foi um dos destacados para receber o prestigiado Prêmio Funarte durante a XXV Bienal de Música Contemporânea Brasileira. Sua composição, intitulada “Energia Escura, para Violino, Percussionista e Voz Feminina Negra”, explora a “Cosmoagonia” do Corpo Negro, termo cunhado pelo autor para descrever o processo de desumanização ao longo dos séculos na história da humanidade.
Nathan, atualmente concluindo seu segundo doutorado na UFBA com foco em música e exclusão social, buscou representar a Terra como uma “Nave Negreira”, agora em direção às “Novas Grandes Navegações” no espaço sideral. Isso alude ao “Navio Negreiro” (1868-80) de Castro Alves, um baiano, escrito e publicado ainda no Brasil Império, oito anos antes da suposta “abolição da escravatura” (1888), seguida pela “Proclamação da República” (1889). O compositor denuncia a persistência da colonialidade. Paráfrases como ” ‘Stamos em pleno ar, doídos no espaço” (Ato II, A), ” ‘Stamos em pleno mar, em sofrimento” (Ato II, B) ou “sem pleno ar” (ATO II, E) simbolizam a persistente falta de perspectiva de mudança para a população negra no país.
A Bienal, iniciada em 1975 e sediada no Rio de Janeiro, apresenta uma série de concertos nos quais são estreadas obras de compositores brasileiros de grande relevância, tanto para o cenário da música de concerto nacional quanto internacional. Os compositores são selecionados por meio de uma chamada pública, na qual uma única obra atual e de autoria própria é proposta e avaliada por uma comissão de artistas renomados no país. Ao todo, 54 compositores foram selecionados, sendo apenas 9 deles do Nordeste. A Bienal está programada para os meses de novembro e dezembro de 2023.