Em seu primeiro dia no novo mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto nesta segunda-feira (20) retirando o país do Acordo de Paris, pacto internacional que busca conter o aquecimento global. A medida, anunciada durante um evento para 20 mil apoiadores em Washington, faz parte de uma série de ações que incluem a revogação de 79 medidas ambientais adotadas durante o governo Joe Biden.
Trump já havia retirado os EUA do Acordo de Paris em seu primeiro mandato (2017-2021), justificando que o tratado prejudicava a economia americana e favorecia outras nações às custas dos Estados Unidos. A decisão foi revertida por Joe Biden em 2021, mas agora o país repete o movimento, unindo-se a Irã, Líbia e Iêmen como os únicos fora do pacto climático de 2015.
A saída será oficializada após a confirmação da Organização das Nações Unidas (ONU).
Acordo de Paris e as consequências globais
O Acordo de Paris, assinado na COP21, tem como principal meta limitar o aumento da temperatura global a 2°C acima dos níveis pré-industriais, com esforços para restringir esse aumento a 1,5°C. No entanto, a decisão de Trump preocupa ambientalistas e especialistas.
Os EUA, como a maior economia global e segunda maior emissora de gases de efeito estufa, têm um papel central na luta contra as mudanças climáticas. A retirada do país do tratado pode gerar impactos significativos, incluindo:
- Aumento das emissões globais de carbono: As políticas anunciadas por Trump incluem o incentivo à exploração de combustíveis fósseis.
- Enfraquecimento das negociações climáticas: A ausência dos EUA pode desencorajar outros países a cumprir suas metas climáticas.
- Possível reação em cadeia: Outros países podem seguir o exemplo americano e abandonar o pacto, prejudicando os esforços multilaterais.
“O plano do Trump é aumentar emissões, é pisar no acelerador dos combustíveis fósseis. Ele não apenas se omite, mas age ativamente contra a agenda climática global”, alerta Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Retrocessos durante a gestão Trump
No primeiro mandato de Trump (2017-2021), o governo revogou mais de 100 regras ambientais. Entre os retrocessos mais marcantes, estão:
- Redução nas metas de eficiência energética para veículos, que caíram de 22 km/l para 14,5 km/l;
- Abertura de áreas protegidas para mineração e exploração de petróleo, incluindo regiões sensíveis em Utah;
- Aumento da extração de madeira em parques nacionais em 30%, justificando como medida de prevenção contra incêndios florestais;
- Retirada de proteções para espécies ameaçadas;
- Suspensão de processos ambientais contra empresas poluidoras, com o menor número de ações criminais em 30 anos.
Essas ações contribuíram para o aumento das emissões de gases de efeito estufa, que haviam diminuído sob a gestão de Barack Obama.
Promessas do novo mandato
Trump já anunciou que seu governo apoiará:
- A expansão de combustíveis fósseis, com projetos de petróleo e gás em áreas como o Alasca;
- A revogação de políticas de estímulo a veículos elétricos;
- A liberação de projetos de geração de energia, como oleodutos e usinas nucleares;
- O cancelamento do Green New Deal, plano de transição energética do governo Biden.
Em seu discurso, Trump afirmou que os EUA enfrentam uma emergência energética e usou a frase “perfure, baby, perfure” para incentivar empresas a intensificar a exploração de petróleo.
Reflexos para o Brasil
A saída dos EUA do Acordo de Paris também pode impactar o Brasil. Especialistas apontam que o Fundo Amazônia, que conta com uma promessa de financiamento de US$ 500 milhões pelos americanos, pode sofrer cortes.
Além disso, a COP30, programada para novembro de 2025 em Belém do Pará, pode ser prejudicada pela postura do governo Trump. O evento, considerado crucial para o enfrentamento das mudanças climáticas, pode perder força com a ausência de cooperação dos Estados Unidos.
A luta pela agenda climática
Para Adriana Ramos, pesquisadora do Instituto Socioambiental (ISA), a presidência de Trump representa um atraso de quatro anos na agenda climática global. “Um país como os EUA, presidido por um negacionista climático, coloca em risco todos os esforços para enfrentar a emergência climática em um momento crucial para o planeta”, disse.
Claudio Angelo, do Observatório do Clima, acredita que a saída dos EUA pode abrir espaço para avanços sem os entraves impostos pelo país. No entanto, ele alerta para a necessidade de maior coordenação entre outros países para compensar a ausência americana.
Com o retorno de Trump à Casa Branca, o mundo enfrenta um momento de incertezas na luta contra as mudanças climáticas, enquanto os esforços globais buscam evitar um futuro ainda mais alarmante para o planeta.