Falsos médicos pagaram até R$ 400 mil por diplomas falsificados da Uneb

Falsos médicos com diplomas fraudados da Uneb são descobertos no Programa Mais Médicos.

A segunda fase da Operação Catarse, realizada pela Polícia Federal (PF), revelou a presença de falsos médicos que utilizavam diplomas falsificados da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) no Programa Mais Médicos, do governo federal. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) anulou 65 registros médicos que foram obtidos por meio de documentos falsos. Três homens envolvidos no esquema foram presos, enquanto uma mulher, apontada como líder da quadrilha, está foragida.

A quadrilha cobrava valores que variavam entre R$ 45 mil e R$ 400 mil para fornecer diplomas falsificados e obter o registro junto ao Cremerj. Os criminosos produziam diplomas falsos de boa qualidade, usando papéis de instituições de ensino renomadas e logotipos de universidades brasileiras. A Uneb era a instituição mais utilizada para falsificar a comprovação de formação acadêmica. Além dos diplomas, históricos escolares e monografias também eram fraudados.

Os criminosos enviavam a documentação falsa para as universidades, que são responsáveis por encaminhar os registros dos recém-formados aos conselhos regionais de medicina. Para dificultar a verificação, os falsários falsificavam diplomas de instituições de outros estados. Eles chegaram até a criar um e-mail falso em nome da Uneb para se passarem pela universidade. Segundo a PF, o esquema funcionava como uma organização empresarial.

Entre os investigados, além dos falsos médicos, há profissionais de saúde, como enfermeiros, que também compraram os diplomas falsos. Em depoimento, os falsos médicos alegaram terem sido vítimas do golpe da quadrilha, mesmo tendo pago valores para obter documentos falsificados e exercer a medicina. A presença dos registros falsos foi constatada no Programa Mais Médicos, que visa suprir a falta de médicos em municípios do interior e periferias de grandes cidades.

Um dos casos identificados é o de Alexandre Antonio Caldeira Ramos, que conseguiu prorrogar sua participação no Programa Mais Médicos usando um diploma falsificado da Uneb. Ele atuava em São Francisco, Minas Gerais. Outra falsa médica, Sayonara Duraes Viriato, teve sua participação no programa prorrogada em 2022 e atuou como médica da família em Jequitaí, Minas Gerais. O Ministério da Saúde afirmou que ainda não foi oficialmente notificado pela PF, mas se colocou como vítima da fraude e prometeu colaborar com as investigações.

Além dos envolvidos no esquema, o secretário de Saúde de Juti, um município no Mato Grosso do Sul, e a enfermeira Cassia Santos de Lima Menezes, que admitiu ter comprado os diplomas por R$ 400 mil, também estão sendo investigados. O Cremerj, que emitiu registros médicos com base em documentos falsos, foi procurado, mas não se manifestou sobre o assunto. O Cremeb, da Bahia, afirmou que nenhum dos falsos médicos investigados estava inscrito na autarquia e ressaltou que realiza uma verificação rigorosa dos documentos necessários para o registro de novos profissionais. A Uneb confirmou que os documentos apresentados ao Cremerj eram ilegítimos e não foram emitidos ou assinados pela universidade.

A operação revelou a fragilidade no sistema de checagem dos conselhos regionais de medicina, permitindo que os registros fossem obtidos com base em documentos falsos. O Cremerj mudou a forma de checagem após a descoberta dos falsos médicos. Agora, eles verificam os registros com o Conselho Regional de Medicina local e também com as universidades. O Ministério da Saúde prometeu colaborar com as investigações e aplicar as sanções necessárias caso as irregularidades sejam comprovadas.