Na última terça-feira (23), na região da Cachoeirinha, Zona Norte de São Paulo, um homem negro enfrentou uma abordagem policial que resultou em violência e constrangimento. César de Carvalho, músico de 31 anos, relatou ao g1 que “não conseguia respirar” durante a ação, que começou com a chegada de policiais militares em resposta a um chamado relacionado ao pagamento do aluguel da residência onde Carvalho mora há sete meses.
Os PMs, pertencentes à Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) do 9° Batalhão da PM Metropolitana, abordaram Carvalho de forma agressiva e sem revistá-lo, segundo seu relato. Mesmo sem oferecer resistência, ele foi alvo de spray de pimenta e imobilizado pelo pescoço pelos policiais. As imagens do episódio viralizaram nas redes sociais, levando ao afastamento dos agentes.
O vídeo mostra um dos policiais imobilizando Carvalho, enquanto o outro aplica spray de pimenta em seu rosto, ignorando os apelos do músico e de outros moradores presentes. Mesmo após a chegada da proprietária da residência, que tentou interceder em favor de Carvalho, os PMs mantiveram a abordagem violenta.
A advogada de Carvalho, Beatriz de Almeida, denunciou a violência sofrida pelo cliente e anunciou que tomará medidas legais contra o Estado, buscando justiça e reparação. O caso, considerado grave por especialistas em segurança pública, expõe mais uma vez as tensões raciais presentes nas abordagens policiais, levantando questões sobre o perfilamento racial e o tratamento diferenciado dado a pessoas negras pela polícia.
Além disso, o músico destacou que foi impedido pelos policiais de telefonar para a sua advogada durante a abordagem. Após ser levado para a delegacia, Carvalho ficou mais de uma hora na viatura e o caso foi registrado como desobediência e desacato.
Os policiais envolvidos foram afastados do serviço pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), que instaurou um Inquérito Policial Militar para investigar o incidente. A Ouvidoria das Polícias de São Paulo também está acompanhando o caso e solicitou as imagens das câmeras corporais dos agentes.
Além disso, a Defensoria Pública, a Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, e o Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos lançaram uma cartilha sobre abordagem policial, visando informar a população sobre seus direitos e orientar sobre como agir nessas situações.
O episódio levanta preocupações sobre a conduta policial e destaca a importância do respeito aos direitos individuais durante as abordagens, especialmente em casos envolvendo pessoas negras, historicamente mais vulneráveis a abusos por parte das forças de segurança.