Bahia se destaca com maior número de inscritos acima de 60 anos no Enem

Há quem pense que universidade é lugar de estudantes que acabaram de sair do ensino médio. No entanto, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) , 798 pessoas com idade igual ou maior que 60 anos prestarão o exame nos dias 5 e 12 de novembro.

O número representa apenas 0,24% do total de inscritos no estado, que somam 324.283 em 2023.

O público de 16, 17 e 18 anos domina o número de inscrições e representa, respectivamente, 31.775, 60.628 e 48.594 candidatos.

Quando comparado a outros estados brasileiros, a Bahia é o quarto com maior contingente de inscrições de pessoas com 60 anos ou mais de idade, perdendo apenas apara o Rio de Janeiro (1.735), São Paulo (1.250) e Minas Gerais (1.039).

O último colocado é Roraima, com apenas 14 inscritos.

O dado tem influência do número de habitantes da Bahia, é o que aponta o professor Wilson Mesquita de Almeida, pesquisador e especialista em ensino superior e professor de Políticas Públicas na Universidade Federal do ABC (UFABAC), de São Paulo.

Com 14.136.417 habitantes, o estado é o mais populoso do Nordeste e o quarto do país. “A Bahia é um estado com bastante gente, maior do Nordeste. Logo, é de se esperar esse dado”, explica Almeida. O crescimento da taxa de envelhecimento no estado pode explicar o interesse do grupo em cursar o ensino superior.

De acordo com o levantamento a Idade do Brasil – Resultados do Questionário do Universo do Censo Demográfico 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísca (IBGE), o total de pessoas na casa dos 60 ou mais cresceu 48,9% na Bahia, nos últimos 12 anos. Entre 2010 e 2022, o estado registrou um aumento de 709.272 idosos, o que configura um total de 2.159.279 – cerca de 15,3% da população. Essa nova realidade demográfica faz a Bahia sair da 12ª posição do ranking de estados com maiores índices de envelhecimento do país, ultrapassando Pernambuco e Ceará.

Outros fatores que explicam o número de idosos inscritos no Enem são longevidade e o aumento de políticas públicas de fomento à educação na primeira metade dos anos 2000 e na década de 2010, além de uma necessidade de competição no atual mercado de trabalho.

“O fato de que alguns desses idosos não tiveram oportunidades ao longo da vida de se dedicarem à educação, devido a trabalho e condições sociais desvantajosas; uma maior necessidade de ter educação para competir no mercado de trabalho, além da ideia de ter uma maior socialização, pois o ambiente universitário possibilita interação com pessoas de diversas idades, são justificativas para essa procura ampliada”, esclarece Wilson Mesquita de Almeida. O professor destaca a importância da participação de pessoas mais experientes nas salas de aula das universidades, o que reflete em um ganho mútuo, tendo em vista a troca de vivências e nuances de estudantes mais maduros, responsáveis pelo enriquecimento do aprendizado.

Em contrapartida, algumas dificuldades são inerentes a essa faixa etária, como ritmo de aprendizagem e etarismo, preconceito por causa da idade. “O ritmo da educação hoje é outro, mais acelerado, mais visual, com mais tecnologia. Também, em alguns locais, podem ser vítimas de preconceito de alguns estudantes mais desinformados. Mas tal fato não é geral. Se o idoso tiver tempo de dedicação aos estudos, a adaptação se torna menos complicada, inclusive lhes permitindo prosseguir, cada vez mais, nos estudos”, conclui.

 

Nota: No domingo (5), milhões de estudantes participam do Exame Nacional do Ensino Médio. Já são 25 anos do Enem. Nesse período, foram muitas mudanças nas provas e também no perfil dos candidatos.

O Exame Nacional do Ensino Médio foi criado em 1998, inicialmente, para avaliar a qualidade do ensino médio. No formato original, tinha 63 questões e 4 horas de duração.

Mas, com o tempo, o Enem se tornou o principal meio de acesso ao ensino superior no Brasil. Na primeira edição, apenas a PUC do Rio e a Universidade Federal de Ouro Preto usam o Enem como critério de acesso à graduação.

Em 2001, passa a ser possível se inscrever pela internet. Em 2004, o exame é adotado por universidades privadas para seleção de bolsistas do programa a Universidade Para Todos (Prouni).

Em 2009, é criado o Sisu, o Sistema de Seleção Unificada, para ingresso em universidades públicas. As provas passam a ser realizadas em dois dias. No ano seguinte, o Enem passa a ser utilizado como seleção para financiamento estudantil.

Em 2015, é possível a adoção do nome social para travestis e pessoas transgênero. Desde que a prova se tornou meio de acesso ao ensino superior, ela mantém as mesmas características. São questões contextualizadas e cada uma reúne conhecimentos de mais de uma disciplina, de uma mesma área.